segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Favor, não perturbar.

Se me fecho,
Me deixe.
Não importa o dia.
Não estou
Nem pra mim.
Não sou eu.

Antes sou

Um vazio feito gente,
Um silêncio ruidoso,
Uma ausência presente.
Sou má companhia.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Perau

Um sentimento afogado,
Amortalhado em sargaço,
Que certa vez deu na rede
e devolvi pra maré.

Uma noite dessas
Veio me assombrar.
Emborcou meu copo,
Me puxou pro fundo...

Para minha sorte,
Aprendi, há muito,
A nadar no escuro.

Que solidão não dá pé...

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Acalanto

Por enquanto chega.
É tarde, descansa.
Vem e se aconchega
Nessa hora mansa.

Deita, que eu guardo
O seu repousar.
E o sono aguardo
A te cafunezar.

Dorme sossegada,
Que hoje a noite é calma
E tão constelada
Quanto a sua alma.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Desencontrar-se

Imerso na treva,
Penso.
Vagueio,
Sem lume
Ou rumo,
Nas vielas
Da minh'alma.
Estranha cidade
Insone,
Cujo único habitante,
Mesmo nela
Onipresente,
É mestre na arte
De perder-se em si.

domingo, 13 de outubro de 2013

Cacofônico

Descompassado sou,
E dissonante
Ainda.
Sendo assim
Estranho à pauta,
Fora do tempo
E da harmonia,
Sigo só
Na melodia
Da vida.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Quimioterapia

Dizem
Que dor é solúvel em álcool.
Bobagem.
Esperança certamente é.
Dose a dose, me trato.

Fatos, sim, são doces
Como tabaco.

Realidade
É um café amargo,
Que te mantém desperto
E com a mente ágil.

Mesmo o mais duro,

Curtido de sal e sol,

Que singra a vida

Obstinadamente

Pela tormenta.

Dócil naufraga

Nas águas mansas

De um colo.

domingo, 6 de outubro de 2013

Não é nada...

Nada mudou
A cidade continua suja
O céu, azul
O transito, infernal
O barulho é o mesmo
O calor, igual
As árvores ainda são verdes
O asfalto esburacado
Nada mudou
Os horários
As rotinas
As filas
As pessoas
Os ônibus
O pão
Nada mudou
Foi só o meu coração.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Lição

Faça, desfaça,
Ou postergue.
Ande, desande,
Ou empaque.

Leve as coisas
como queira.
Siga a linha
Ou se embarace.

Só aprenda
Que na vida,
O melhor
É desatar-se.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Leituras

Numa tarde como essa,
Indolente e luminosa.
Eu quero te ler sem pressa
Alternando verso e prosa.

Quero grifar teu sorriso,
Folhear-te de carícias,
Reinterpretar teu juízo,
Te recitar mil delícias...

E quando a noite chegar
Não a iremos perceber.
De tanto que há pra nos ler
Até o dia raiar...