quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Minúcias

Na aura frágil
De um olhar
De relance,
No gesto fútil,
No desencontro,
No casual...

Mais café,
Nada doce.
Sem amargura,
No entanto,
Só desencanto.

De volta ao ponto:
Não há,
Nem razão.
Só luz e sombra.
Menos ainda,
Apenas luz.
Tudo mais é sutileza.






quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Dueto

Desejos harmônicos 
Crescendo em carícias
Pulsos em contraponto
Fôlegos em staccato
Corpos em uníssono 

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Equilíbrio

Sou pedra
Em meu
Sapato,

Entretanto,

Se à beira
Do abismo
Não me calço,

Não passo
Dum passo
Em falso.

sábado, 7 de dezembro de 2013

Antecipação

Como um gato
De tocaia,
Pacientemente
Espera.

Na cabeça
Enfumaçada,
Coze aos poucos
Uma idéia,

Com o calor do peito
Onde um fogo crepita.

Pelas vidraças
Dos olhos
Vê-se o reluzir
Da chama...

Agora!

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Tábula rasa

Branca profundez,
Espelho reverso
Que me mesmeriza.

Esfinge auto-imposta
Onde me decifro.

Sua fria sanha
A tudo consome:
Consciência,
Tempo,
Sono,
Inspiração...

Vazio restrito,
Guarda o infinito
Em possibilidades.
















segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

S/ titulo

Se é pra desengavetar, esse sim é antigo, de 98.
Então já sabem, qualquer coisa, perdoem o moleque de 15 anos que escreveu... =P



O amor é um navio
Perdido na cerração.
Nau com as velas rasgadas,
Embarcação assombrada,
Sempre vagando à deriva
Na bruma do coração.

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Ocaso no asfalto.

Mil luzes surgiam
Substituindo o sol
Que morria velado
Por concreto.

O ronco suave
Dos motores,
E o cantar das buzinas,
Ecoavam nas esquinas.

À beira do dia, a cidade
Tomava o fôlego
De dez mil escapamentos
Para mergulhar na noite.


sábado, 16 de novembro de 2013

Hino libado

Amor liquefeito
Repleto de mito.
Néctar amargo.
Corpo borbulhante
E coroa de espuma.
Solvente de egos.
Eu canto seu rito.

Se perdido,
Mal te provo
Me encontro. 

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

Personalindeza

Vê com clareza.
A verdadeira beleza.
É a sutil composição,
Junção de cada detalhe,
Quer defeito ou qualidade,
Que ressalta a identidade
De uma pessoa em questão.

Porque belo é perceber.
Não simetria de forma,
Mas harmonia de ser.
E pra isso não há norma.

Não apenas nas pessoas.
Também coisas e lugares
Não são belos por padrão.
Belezas são singulares.

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Des[a]tino

Em tudo pensar
De tudo fazer
Mil coisas provar
Mil bocas beijar
Lugares mil ver
Perder e ganhar
Sentir a valer
Gastar todo ser

E ainda assim, querida.

Não há razão a descortinar
No eterno desencontrar
Que assim chamamos de vida.


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Favor, não perturbar.

Se me fecho,
Me deixe.
Não importa o dia.
Não estou
Nem pra mim.
Não sou eu.

Antes sou

Um vazio feito gente,
Um silêncio ruidoso,
Uma ausência presente.
Sou má companhia.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Perau

Um sentimento afogado,
Amortalhado em sargaço,
Que certa vez deu na rede
e devolvi pra maré.

Uma noite dessas
Veio me assombrar.
Emborcou meu copo,
Me puxou pro fundo...

Para minha sorte,
Aprendi, há muito,
A nadar no escuro.

Que solidão não dá pé...

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Acalanto

Por enquanto chega.
É tarde, descansa.
Vem e se aconchega
Nessa hora mansa.

Deita, que eu guardo
O seu repousar.
E o sono aguardo
A te cafunezar.

Dorme sossegada,
Que hoje a noite é calma
E tão constelada
Quanto a sua alma.

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Desencontrar-se

Imerso na treva,
Penso.
Vagueio,
Sem lume
Ou rumo,
Nas vielas
Da minh'alma.
Estranha cidade
Insone,
Cujo único habitante,
Mesmo nela
Onipresente,
É mestre na arte
De perder-se em si.

domingo, 13 de outubro de 2013

Cacofônico

Descompassado sou,
E dissonante
Ainda.
Sendo assim
Estranho à pauta,
Fora do tempo
E da harmonia,
Sigo só
Na melodia
Da vida.

quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Quimioterapia

Dizem
Que dor é solúvel em álcool.
Bobagem.
Esperança certamente é.
Dose a dose, me trato.

Fatos, sim, são doces
Como tabaco.

Realidade
É um café amargo,
Que te mantém desperto
E com a mente ágil.

Mesmo o mais duro,

Curtido de sal e sol,

Que singra a vida

Obstinadamente

Pela tormenta.

Dócil naufraga

Nas águas mansas

De um colo.

domingo, 6 de outubro de 2013

Não é nada...

Nada mudou
A cidade continua suja
O céu, azul
O transito, infernal
O barulho é o mesmo
O calor, igual
As árvores ainda são verdes
O asfalto esburacado
Nada mudou
Os horários
As rotinas
As filas
As pessoas
Os ônibus
O pão
Nada mudou
Foi só o meu coração.

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Lição

Faça, desfaça,
Ou postergue.
Ande, desande,
Ou empaque.

Leve as coisas
como queira.
Siga a linha
Ou se embarace.

Só aprenda
Que na vida,
O melhor
É desatar-se.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Leituras

Numa tarde como essa,
Indolente e luminosa.
Eu quero te ler sem pressa
Alternando verso e prosa.

Quero grifar teu sorriso,
Folhear-te de carícias,
Reinterpretar teu juízo,
Te recitar mil delícias...

E quando a noite chegar
Não a iremos perceber.
De tanto que há pra nos ler
Até o dia raiar...

domingo, 29 de setembro de 2013

Mediana

De tanto buscar, perdi.
De tanto acertar, errei.
De tanto olhar, não vi.
De tanto pensar, nem sei...

Então aprendi.
Nem tanto,
Nem tão pouco.
Apenas serei.

sábado, 28 de setembro de 2013

Permanência

No escurecer do dia.
Na fila do mercado.
No cumprimento mudo.
No velho café com pão.
Nas manchetes dos jornais.
Nos tantos livros pra ler.
Nas horas frente ao pc.

No lavar dos pratos.
Na pasta de dente.
Nos chinelos velhos.
No fazer a barba.
No banho morno.
Na cama de solteiro.

Trago ainda a luz da tarde
estranhamente entranhada
no cerne da minha mente.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Anúncio (Musicárdio)

Procura-se luthier
Que conserte coração,
Instrumento complicado
Que finge ser percussão.

Se às vezes alguém o toca,
É um bater desordenado,
Jamais acerta um compasso
E soa subtonado.

Caso não haja conserto
Não o pretendo vender,
Mas talvez aceite troca,
Pois ocupa muito espaço...




domingo, 22 de setembro de 2013

Silêncio

De repente,
uma hora qualquer, indistinta.

Tudo parece-me vulgar e inconsistente.

O tempo trava
num momento opaco.

Me percebo cercado de ausência.

Fitando o nada
no teto do quarto.

Espero o sono pra acordar de novo.



terça-feira, 17 de setembro de 2013

sábado, 14 de setembro de 2013

Desenbago

Já caía
maduro o dia,
feito fruta

Adoçando a vida
dura

A tarde, bagunço
com visgo
e sorriso.

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

S/ título

                                    Esse é bem antigo, literalmente desengavetado.





Num desses dias de luz inclemente,
enquanto o sol me esbofeteia a cara.
Me ponho a andar um tanto indiferente.
Ignorando carros e passantes
que enchem de vida o asfalto quente,
todo o concreto e a alvenaria,
as ruas, praças, esquinas e becos...

Meu corpo segue, quase inconsciente
feito um autômato a andar somente
enquanto o sol me agride
e eu me perco.

terça-feira, 10 de setembro de 2013

Foco

Atingir o alvo
é a única meta
da seta.

E já no disparo
seu ciclo se fecha.

A mira do arqueiro
é a alma da flecha 

João-bobo

Se entristeço, não me queixo
É da vida, isso é fato.

Aprendi com as muitas quedas
A me levantar no ato.

Prostrado,  e só, não me deixo.
Eu prossigo, como for...

Se abatido, é só prova de que vivo,
Pois morto não sente dor.

Libação

Obtuso
Observo no copo
O obscuro verdume
Feito um portal obsoleto

Absorto
Me abstenho 
De ser objetivo

Absurdo
Absorvo
Absinto

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Cadeia alimentar

Dizer que é o homem quem come
é uma estúpida inversão.

Primeiro: A mulher tem lábios,
enquanto que o homem, não.

Segundo: Quando se excitam,
na iminência de ação...

O macho se queda rijo
farejando a predadora...

Já a fêmea, acerca da presa,
fica com água na boca
pressentindo a refeição...

Urbanoma

Tijolo por tijolo,
paredes se erguem.
Tijolo por tijolo
a cidade cresce.

A organicidade
da sua arquitetura,
tijolo por tijolo,
desfaz sua estrutura.

E a ordem que inda existe
no caos onipresente,
como uma fractal,
repete eternamente

o mesmo padrão tolo,
em macro, micro, nano...
Tijolo por tijolo.
Eis o milagre urbano.

domingo, 8 de setembro de 2013

S/ Título

Na tarde amarela e turva
desse dia enferrujado
eu contemplei, feito um cego,

do alto a impaciência de quem se mata de tédio,

o sol cair moribundo,
embora brilhasse, rubro,

e apagar como um cigarro
no horizonte da cidade.

Re-verso

Sigo a vida de través
e o caminho atravessado
me leva a um novo viés
dum destino enviesado.

Mas prossigo inabalado.
Pois, sendo assim revessado,
tiro a sorte do revés.

sábado, 7 de setembro de 2013

Ventarde

O vento que desalinha
o seu cabelo ondulado

traz consigo uma tristeza,
que leve, doce que é...

De mãos dadas com a alegria,
salpica de fantasia 
o estar num lugar qualquer...

...

Certa vez, quando lutava com meus vícios
perambulando pela rua morta.
O sol se pondo atrás dos edifícios...

Um arco-íris pôs-se em minha frente
feito uma afronta à minha tarde triste,
mais ofensivo que um dedo em riste,
e me deixou mais triste do que antes.

Mas após um minuto, ele se foi.
Sumiu do céu numa questão de instantes.
E deixou a sensação que certas coisas,
às vezes, nem o tempo modifica.

Passou-se o dia
a tristeza fica.





(Esse é velhinho, dos meus tempos de depressivo)

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Relento

Quando escrevo, me retrato
por tudo que não quis dizer.

Me descrevo sem pudores,
e com algum humor...

Exorcizo minhas dores
sem poupar o fel.

E os versos se condensam
feito orvalho no papel.

Sem título

A beleza é inerente a se viver
e é algo natural de ser humano.
Mesmo a labuta do cotidiano
é repleta de graça, basta ver.

Há poesia em se estar disperso
no alheamento que a rotina lavra.
O dia-a-dia é que produz o verso
que o poeta depois torna palavra

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Perceber-se

É fácil sonhar desperto.
Basta mergulhar de peito
No onipresente insuspeito.

Repare o quanto ignora,
os detalhes que não nota.
Se deixe sair do centro.

Há um universo lá fora,
imensidão ignota.
E ainda um outro aí dentro.

Se embeba em percepções
como um pincel na tinta.
Só dispa as idéias, e sinta.

Café

Esse é velho, lá dos longínquos tempos de 2005, mas o sentimento ainda é o mesmo. =P



O que dizer-te, café.
És meu balsamo e estimulante.
És descanso do dia fatigante
e despertar da noite mal dormida.
Teu doce amargo é o sabor da vida
que se pode adoçar quanto quiser.

Trazes calor aos corações carentes
és dádiva divina para os crentes
e um consolo pros que não tem fé.

É como a noite tua cor escura
simples e bela, insondável, pura
qual fênix das cinzas renascida.

E teu aroma é tão reconfortante
que de tudo ao redor me faz distante
como memória mil vezes vivida...

Não há melhor parceria na vigília,
e de hoje ao meu dia derradeiro
quero ter-te sempre por companheiro.
Para mim és um membro da família.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Sercatriz

As marcas que a vida deixa
no traje, cômico ego,
que veste minh'alma nua.
São parte de mim, não nego.

São as nódoas do desejo,
da tristeza, da paixão...

Os estigmas do tempo,
da verdade, da ilusão...

São todas coisas que ficam,
quer tenham passado ou não.

São marcas que constituem
e que definem meu ser.
Porque todos somos feitos
de retalhos de viver. 

Narguilé

Medito com o fogo aceso
e a fria água cantante.
Produzindo pensamento
e a fumaça fragrante
com que a cada momento
incenso todo ambiente.
Tendo o breve sentimento
de tirar da vida o peso...

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Minh'alma

Minh'alma cheira a couro cru,
A maresia e concreto,
A lírio e terra molhada,
A vinho tinto e cachaça.

Minh'alma cheira a cabaça,
A dendê e a ferrugem.
E em tudo prende o seu cheiro
Como um incenso barato.

A minh'alma cheira a mato,
A asfalto e a café.
E seu odor colorido
Contrasta com seu tom cinza
Sabendo a nuvem de chuva.

Ultimato

Quero a insensibilidade de uma bala.
A solidez de um bunker.
A robustez de um tanque.
A rapidez de um jato.
O poder de uma bomba.
Eu quero guerra.